Com essa pergunta, fomos ao encontro de quem convive e trabalha com adolescentes e jovens, em sua maioria negras/os, em situação de vulnerabilidade, risco social e/ou em conflito com a lei, a parcela mais afetada das estatísticas.

Segundo o Atlas da Violência 2020, quase 60% das mortes de homens entre 15 e 29 anos foram causadas por homicídio no Brasil. Houve um aumento considerável desses números nos últimos dez anos, acentuando as desigualdades de raça/cor. No período, a taxa de negros vítimas de homicídio cresceu 33,1%, enquanto a de não negros (brancos, amarelos e indígenas) apresentou um aumento de 3,3%. Das vítimas totais, 75,5% são homens negros, e 74,3% possuíam até sete anos de estudo.

Diante da naturalização da morte precoce e violenta dessa população, a ideia foi realizar um processo de escuta com profissionais de diversas áreas, além de pessoas e movimentos da sociedade civil, para mapear práticas e saberes que fazem diferença na preservação da vida de meninos e meninas. São ações cotidianas, com grande potencial para gerar impacto positivo, mas que acabam não tendo espaço nos fluxos e protocolos institucionais.

FAZ DIFERENÇA é um convite para aquelas/es que já se engajam nessa luta e também para sensibilizar quem ainda está um pouco distante, mas é essencial a ela. Dividido em seis propostas: enxergar, perceber, humanizar, dialogar, somar e transformar, cada uma delas mesclando ações individuais e coletivas, chamando para a corresponsabilidade de todas/os.

Escutas

Trocar uma ideia sem pré-julgamentos, oferecer uma escuta atenta e sensível fora dos ambientes programados, permitir que os afetos se misturem às demandas, olhar para além do que está posto, fazer uso criativo dos protocolos e apostar nas invenções construídas pelas/os próprias/os adolescentes e jovens.

Essas são só algumas das muitas possibilidades com as quais nos deparamos pelo caminho. Em busca de mapear práticas que fazem diferença, a escuta nos ensinou que elas só são possíveis quando cada pessoa ultrapassa a simples ideia de oferta, comprometendo-se com a transformação social. Seja no balcão de atendimento, no corredor de um centro de internação, no ônibus a caminho de uma atividade ou na ligação para um agendamento.

Conversamos com mais de cinquenta pessoas, entre agentes de segurança socioeducativos, técnicas/os das medidas socioeducativas em meio aberto (Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade) e fechado (Semiliberdade, Internação e Internação Provisória), gestoras/es de políticas públicas municipais e estaduais, promotoras/es de justiça, defensora pública, juiz de direito, procuradoras de justiça, analistas do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), analistas sociais e oficineiros de programas de prevenção à criminalidade, pesquisadoras/es, grupos de pesquisa e movimentos sociais como a Associação Imagem Comunitária (AIC), o Fórum das Juventudes da Grande BH, a Rede Mães de Luta MG, o Coletivo Terra Firme, a Academia TransLiterária e o projeto Desembola na Ideia.

“Esse menino não morreu semana passada, ele começou a morrer quando nós, enquanto instituições, começamos a dizer também que não tinha mais jeito, concluir e finalizar os casos.”

Fabiana Carvalho, coordenadora geral do Programa de Proteção a Crianças
e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas Gerais (PPCAAM)

Esse movimento começou em março de 2020, logo quando a pandemia atravessou todas as rotinas de trabalho e mobilização. O que a princípio parecia um empecilho, mostrou-se grande potencializador de encontros: alcançamos pessoas interessadas em toda Belo Horizonte, inclusive em municípios no interior e em outros Estados.

Mesmo com todas as limitações, as telas afirmaram um dos objetivos principais da campanha, que é encontrar brechas em meio às contingências. Todos as/os trabalhadoras/es comprometidos com a vida dos adolescentes e jovens, sabem do que isso se trata.

“Eles querem um lugar e não têm dúvida de que esse lugar dura pouco, e não esperam mais do que isso. É o que dá um nome para esse desamparo total e completo, para essa miséria que é humana muito mais do que financeira. Ele nasceu para morrer, mas a escuta que oferecemos pode ajudá-lo a ver um sentido em se manter vivo.”

Cristiane Ribeiro, colaboradora da Associação Imagem Comunitária (AIC) e psicanalista do projeto Desembola na Ideia

Nos afastamos das normas e dos processos prescritivos em busca dos afetos mobilizados em cada caso, das histórias que marcam as trajetórias profissionais, dos impasses e das angústias que geram reflexão e dos desejos de dar sentido ao fazer marcado pela proximidade com o risco, a morte e os impasses próprios à socioeducação e à prevenção em um país como o nosso.

São diálogos que desestabilizam visões por vezes simplistas e discriminatórias sobre as/os adolescentes e jovens atendidas/os nas medidas socioeducativas e os seus movimentos, sejam aqueles que as/os aproximam da vida ou as/os afastam dela. E também os discursos comuns que incidem nas/os profissionais, suas funções e as expectativas que envolvem.

Dizer que um adolescente não tem mais jeito é uma forma de desacreditar na potência do trabalho cotidiano de quem atua para mudar essa realidade.

“Eles chegam na Defensoria emoldurados pela faceta mais opressora do Estado, que os trazem como o sujeito que está em risco e não cumpridor da lei. É muito difícil para eles desconstruir esse etiquetamento do sistema."

Ana Paula Canela, defensora pública da Especializada de Infância e Juventude – Ato Infracional

Ao embarcar nesse desafio com rosto e nome próprio, muitas vezes remando contra a maré, cada trabalhador/a provoca uma faísca de mudança muito importante. Acreditar no próprio trabalho e no valor da vida de cada adolescente, acima e apesar de tudo. E fazer com que essa se torne uma premissa verdadeira de toda a rede, mediando o desejo e a ação individuais com as instituições e os movimentos, é o grande desafio.

A escuta se desdobrou em diversos produtos. Nesta plataforma, você acessa a publicação, que apresenta o material completo desse processo, a série de podcasts com a voz de especialistas, pesquisadoras/es, profissionais e militantes da sociedade civil, além das redes sociais, onde que promovem  outros canais de escuta e continuidade dessa jornada.

“É um dispor que você tem com aquele jovem.
 Ele aparecer de última hora, e você falar assim “aguarda que eu vou te atender”, ou ligar para ele na semana seguinte e perguntar “você conseguiu fazer a entrevista de emprego?”.

Alessandra Vasconcellos, assistente social analista da Promotoria de Justiça da Infância e Juventude Infracional de Belo Horizonte

PUBLICAÇÃO

A publicação FAZ DIFERENÇA - Um convite para comprometer-se cotidianamente com a vida de adolescentes e jovens apresenta, com profundidade, o material das escutas realizadas com mais de cinquenta pessoas, entre profissionais, militantes, pesquisadoras/es, jovens e movimentos da sociedade civil organizada.
Estruturada a partir das seis propostas, cada uma delas traz páginas especiais com textos reflexivos e poéticos das/os jovens participantes, assim como intervenções educativas para auxiliar as/os profissionais em seu cotidiano. Também contam com episódios do podcast FAZ DIFERENÇA correspondentes, que podem ser acessados conjuntamente à leitura, de forma a complementá-lo, ou separadamente.
Desejamos que essa leitura faça diferença no seu percurso!

Para acessar a publicação clique na imagem abaixo.

Para download, clique aí

podcasts

O podcast FAZ DIFERENÇA é dividido pela série das seis propostas, que aprofundam as discussões por meio da fala de pessoas da sociedade civil, militantes, pesquisadoras/es e profissionais com experiência na área. Os áudios podem ser acessados conjuntamente com a publicação, de forma a complementá-la, ou separadamente.

Clique nas imagens e acesse cada episódio separadamente ou acesse nas plataformas digitais

quem faz

FAZ DIFERENÇA nasce do encontro entre a Associação Imagem Comunitária (AIC) e a Comissão de Prevenção à
Letalidade de Adolescentes e Jovens do Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte, redes comprometidas com a garantia de direitos e a transformação social. Com quase três décadas de atuação, a Associação Imagem Comunitária se dedica ao desenvolvimento das mais variadas metodologias de construção do diálogo em processos de mobilização social e educação para a cidadania e de empoderamento de sujeitos com vistas à construção do desenvolvimento humano pleno.

A parceria com o Fórum é de longa data, e tem gerado importantes frutos nos últimos anos — um deles, é esta campanha. Desde 2014, a Comissão de Prevenção à Letalidade de Adolescentes e Jovens realiza ações para conferir visibilidade ao fenômeno da letalidade juvenil e promover a sensibilização e mobilização de diversos atores para construção de ações de corresponsabilidade pela promoção da vida desse público.

Saiba mais aqui

#FAÇODIFERENÇA

Conheça também as pessoas que integram essa rede e apoiam a causa junto com a gente!

Afrânio José Fonseca Nardy – Juiz auxiliar da Vara Infracional da Infância e Juventude de Belo Horizonte

Alayê Brito – Atleta mediano, formado em Ciências Políticas e Estudos Internacionais

Alessandra Mendes Vasconcelos de Souza – assistente social, Oficial  da Promotoria de Justiça da Infância e Juventude Infracional de Belo Horizonte

Alessandro Silva – Cientista social e analista social do Programa Fica Vivo!

Amilton Alexandre - Assistente Social e coordenador do Serviço de Proteção Social à Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa em Meio Aberto – Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade 

Ana Cláudia Rosa Pimenta de Mattos – Assistente social e analista de políticas públicas da PBH, atualmente coordenadora de Prevenção à Letalidade Juvenil da Diretoria de Prevenção Social à Criminalidade (DCRI), na Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção

Ana Paula Canela – Defensora pública titular da Defensoria Especializada de Infância e Juventude – Ato Infracional e conselheira do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas gerais (PPCAAM)

Anne Cristina Eliane de Souza da Silva – Assistente social, pedagoga e analista Social do Programa Fica Vivo!

André* – Agente de segurança socioeducativo de uma unidade de internação no interior de Minas Gerais

Andrea Guerra – Psicanalista, professora adjunta do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMG e coordenadora do PSILACS/UFMG - Núcleo de Psicanálise e Laço Social no Contemporâneo 

Bárbara Afonso – Psicanalista do projeto Desembola na Ideia

Benilda Brito – Pedagoga, militante do Nzinga - Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte e coordenadora do projeto “Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar”, do ODARA - Instituto da Mulher Negra

Bernardo Pinto Coelho Naves – Subsecretário de Atendimento Socioeducativo de Minas Gerais (SUASE)

Cássia Vieira de Melo – Psicóloga e coordenadora geral do Fórum Permanente de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte

Chico* – Bibliotecário e arte educador do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas Gerais (PPCAAM)

Cláudia Panzini - Assistente Social Judicial do Setor de Acompanhamento das Medidas Restritivas de Liberdade do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (SAMRE/TJMG)

Christiane Matozinho – Psicanalista, doutoranda e bolsista pesquisadora do PSILACS/UFMG - Núcleo de Psicanálise e Laço Social no Contemporâneo

Cristiane Zeferino – Especialista em práticas socioeducativas pela PUC Minas e psicóloga no Centro Socioeducativo Lindeia

Cristiane Ribeiro – Colaboradora da Associação Imagem Comunitária (AIC), psicanalista do projeto Desembola da Ideia e integrante da Rede Mães de Luta MG

Danielle Arlé – Promotora de justiça da 23ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude Infracional de Belo Horizonte e coordenadora da Comissão de Justiça e Práticas Restaurativas do Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte

Emanuelle Lopes Miranda – Terapeuta ocupacional no Centro de Internação Provisória (Ceip) Dom Bosco

Fabiana Carvalho – Assistente social e coordenadora geral do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas gerais (PPCAAM)

Felipe Zilli – Jornalista e pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP)

Fernanda Brito Pereira – Procuradora do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais

Fídias Siqueira – Psicanalista, doutorando e pesquisador do PSILACS/UFMG - Núcleo de Psicanálise e Laço Social no Contemporâneo 

Gabriel Lopo – Integrante do Fórum das Juventudes da Grande BH

Gabriel Lyra de Melo Franco – Graduando em Ciências Sociais e estagiário do Programa Fica Vivo!

Giovanni Alberto da Silva – Psicólogo na Casa de Semiliberdade São João Batista e integrante da coordenação da Comissão Psicologia e Juventudes do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP)

Henrique Diniz – Psicólogo na Casa de Semiliberdade Letícia

Hugo de Sena – Analista Executivo de Defesa Social – Psicólogo na Diretoria de Orientação Socioeducativa da SUASE

Isabelle Chagas - Jornalista e analista de comunicação da Associação Imagem Comunitária (AIC)

Joanna Arllen – Artista, integrante da Secretaria Executiva do Fórum das Juventudes da Grande BH e dos coletivos Academia TransLiterária, Galla On Fire e Pretas T

Josânio Soares Alves – Agente de segurança socioeducativo no Centro de Internação São Benedito

Juarez Dayrell – Professor aposentado da Faculdade de Educação da UFMG (FaE/UFMG) e fundador do Observatório da Juventude da UFMG

Karina Pereira dos Santos – Psicóloga, mestranda em Psicologia Social e Analista de Políticas Públicas na Diretoria de Políticas para as Juventudes na Prefeitura de BH

Leandro Zerê – Poeta, integrante da Secretaria Executiva do Fórum das Juventudes da Grande BH

Lucas Rolla – Promotor de justiça da 23ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude Infracional de BH

Luciana Coutinho – Procuradora do Ministério Público do Trabalho e coordenadora Regional Coordinfancia (Coordenação Nacional de Combate à Exploração do trabalho da Criança e do adolescente)

Maira Cristina Soares Freitas – Psicóloga e coordenadora do Núcleo De Atendimento às Medidas Socioeducativas e Protetivas de Belo Horizonte (NAMSEP)

Marcela Andrade - Psicóloga Judicial do Setor de Acompanhamento das Medidas Restritivas de Liberdade do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (SAMRE/TJMG) 

Márcia Alves – Professora e diretora de Prevenção à Criminalidade na Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte

Márcio Rogério – Promotor de justiça da 23ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude Infracional de BH

Marco Chagas - Artista gráfico e designer da Associação Imagem Comunitária (AIC)

Michelle Gangana – Psicóloga e diretora de Proteção da Juventude  / Programas Fica Vivo! e Se Liga (DPJ/SUPEC/SEJUSP) e coordenadora da Comissão de Prevenção à Letalidade de Adolescentes e Jovens do Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte

Musso Greco – Psiquiatra, psicanalista (membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise) e coordenador do projeto Desembola na Ideia

Paola de Nazareth – Promotora de Justiça e Coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CAODCA)

Marisa* – Psicóloga, técnica do Serviço de Proteção Social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto de Liberdade Assistida (LA) e Prestação Serviço à Comunidade.

Raissa Fernandes - Relações públicas e analista de comunicação da Associação Imagem Comunitária (AIC)

Rafaela Lima - Diretora da Associação Imagem Comunitária (AIC)

Raquel Amarante – Psicóloga e Gerente de Formação Técnica e Parcerias Institucionais do Programa Fica Vivo! sugestão: (DPJ/SUPEC/SEJUSP)

Russo APR – Pedagogo, rapper, educador popular e integrante do coletivo Terra Firme

Selmara Mamede Ferreira – Psicóloga, Analista da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Belo Horizonte

Solar* – Psicóloga e técnica do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas Gerais (PPCAAM)

Twu do Barreiro – Rapper, produtor musical e oficineiro do Programa Fica Vivo! (em memória)

Vanessa Golgher – Psicóloga e coordenadora do Programa de Acompanhamento ao Egresso das Medidas Socioeducativas de Internação e Semiliberdade em Minas Gerais / Se Liga (DPJ/SUPEC/SEJUSP)

Comissão de Prevenção à Letalidade
de Adolescentes e Jovens


A Comissão de Prevenção à Letalidade de Adolescentes e Jovens integra o Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte. Instituída em 2014, tem como seus principais objetivos conferir visibilidade ao fenômeno da letalidade juvenil e promover a sensibilização e a mobilização de diversos atores para construção de ações de corresponsabilidade pela promoção da vida desse público.

BREVE HISTÓRICO DE ATUAÇÃO
Qualificar o fenômeno foi um dos primeiros objetivos do trabalho da Comissão, inicialmente por meio da leitura da incidência da letalidade juvenil no espaço-tempo do Sistema Socioeducativo e, em seguida, por uma imersão nas histórias de vida das/os adolescentes e jovens vítimas de homicídio. A primeira aproximação se baseou no cruzamento de dados de homicídios de jovens na faixa etária de 12 a 21 anos, ocorridos entre os anos de 2011 e 2013, em Belo Horizonte, obtidos a partir dos registros da então Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais. Em seguida, foi realizado o cruzamento com o banco de informações do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional de Belo Horizonte (CIA-BH), a fim de identificar, nesse universo, adolescentes e jovens que haviam passado, em algum momento, pelo Sistema Socioeducativo.

Em 2015 e 2016, realizamos o percurso pelos registros produzidos sobre as trajetórias das/os adolescentes, a partir dos olhares e das escutas das/os profissionais, traduzidos nos relatórios técnicos remetidos aos processos de execução de medidas socioeducativas da Vara Infracional da Infância e Juventude. Em parceria com a universidade, tecemos reflexões sobre as concepções de risco e proteção que conduziram nossa prática e nossa escuta da/o jovem.

Nos anos de 2017 e 2018, a Comissão deu continuidade ao trabalho e iniciou a construção de um espaço de encontro com adolescentes e jovens, para escuta de suas percepções sobre o risco e a proteção, bem como sobre seu percurso pelos serviços e pelas instituições da rede. A análise dessas falas nos apontou o atravessamento de discursos sociais e estruturas de segregação nos corpos das/os jovens, na cor da pele, no território, nas identificações, na forma de ser vista/o e na resposta a esse olhar. 

No final do ano de 2018, foi realizado o seminário “Caminhos traçados para a morte”, com uma estrutura de duas mesas de trabalho, com uma apresentação da dimensão real de risco à vida e um panorama das soluções simbólicas e imaginárias (“grampos”) que as/os jovens encontram e criam para lidar com isso. Sem pretender “fechar” a questão, a pergunta que subjazia era: “e aí, o que fazemos com isso que escutamos das/os jovens?”. No seminário, ficou evidenciado para a Comissão o quão angustiante é para as/os profissionais que atuam na rede de proteção lidar com o embaraço do risco, da ameaça e da vida desse público.

Em 2019, ainda sob efeito do seminário, os integrantes da Comissão iniciaram uma construção ao constatar que os números não causam mais o impacto necessário para o avanço da discussão de enfrentamento da letalidade de adolescentes e jovens. Mesmo com tantas pesquisas, dados e mapas apresentados, percebemos que ainda há muito a ser feito para provocar mudanças na sociedade e nas instituições em relação a esse fenômeno, resgatando o valor da vida. 

Entre os meses de setembro e outubro de 2019, estabelecemos vários encontros em parceria com a Associação Imagem Comunitária (AIC), nos quais foi possível elaborar um Plano de Comunicação com o levantamento e a análise da relação dos públicos e atores relevantes para a causa, tendo em vista o objetivo central: a prevenção à letalidade de adolescentes e jovens. A partir desse trabalho, a comissão analisou os diferentes critérios de mapeamento, buscando identificar os desafios comuns a diferentes públicos, e também propôs estratégias que poderiam ser adotadas de maneira mais assertiva durante as ações.

Com a definição dos eixos estratégicos, o grupo elaborou propostas de ações de comunicação envolvendo o coletivo de públicos, de maneira a causar impacto positivo para a promoção da vida. Uma das ações de comunicação desse Plano foi uma campanha de sensibilização e mobilização para o enfrentamento à letalidade de jovens e adolescentes em Belo Horizonte, tendo como foco as letalidades que envolvem o público que é atendido por medidas socioeducativas em meio fechado e aberto e que é vulnerável a violências relacionadas, sobretudo, a grupos criminosos e a aparatos do Estado.

Assim nasceu a campanha FAZ DIFERENÇA.

FAÇODIFERENÇA

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oquefazdiferença@gmail.com
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